top of page
  • José Luís Peixoto

NOVA IORQUE, ESTADOS UNIDOS

Atualizado: 30 de out. de 2020


Saudades de Manhattan






Saudades da língua, escutada de relance nos passeios, fragmentos, meias-frases em inúmeras pronúncias, a língua no altifalante do metro, quase incompreensível, escrita em toda a parte, títulos de notícias a passarem em letreiros eletrónicos na Times Square, a cotação da bolsa. Saudades da Times Square, o exagero de informação simultânea, as bilheteiras dos espetáculos da Broadway, os cartazes, as citações das críticas nos cartazes, two thumbs up, as pessoas a atravessarem nas passadeiras. Saudades dos bonecos dos semáforos, os números das ruas e das avenidas, o Flatiron, as escadarias da Public Library, os homens de fato a avançarem pelos passeios de cimento, as mulheres penteadas, gente de todas as formas, com todas as origens, o topo do Chrysler Building a aparecer entre os arranha-céus, o topo do Empire State Building. Saudades dos arranha-céus, diferentes de todos os outros do mundo, arranha-céus de Nova Iorque, vistos a partir da Ponte de Brooklyn, gente a caminhar numa e noutra direção na passagem estreita da ponte, às vezes uma bicicleta, às vezes alguém correr com todo o equipamento. Saudades da Chinatown, as malas de contrafação, as obras na estrada, as bancas de fruta, de peixe, os carros a apitar, a sirene das ambulâncias, as lojas da Canal Street, a Bowery. Saudades das farmácias Duane Reade, CVS, o Whole Food's, o Trader Joe's, a Strand, a Barnes & Noble da Union Square. Saudades das entradas do metro, gente a desaparecer no chão, os músicos amplificados pelo eco dos corredores, o cheiro do metro, as caras das pessoas, gente zangada ou louca, a saída do metro, downtown, midtown, uptown. Saudades dos parques, as copas das árvores no outono, os cães a serem passeados, cães de Nova Iorque, as fontes, os discos voadores a planarem paralelos à relva, gente a correr, gente a correr, os pombos. Saudades do rugido de Manhattan.














bottom of page