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  • José Luís Peixoto

CHENGDU, REGRESSO A CASA

Atualizado: 30 de out. de 2020

Chengdu








Impressiona-nos estar tão longe de casa. No Parque do Povo,

com as duas mãos, pousamos chávenas de chá sobre mesas

de pedra. À mesma velocidade, flores de lótus flutuam no lago.

Por 10 yuan, especialistas com um cinturão de ferramentas

limpam-nos as orelhas. Olham demoradamente através desse

canal, observam ideias esdrúxulas, tentam compreendê-las.

Mas nós comparamos a província de Sichuan com Fornos de

Algodres e com o Alto Alentejo. Quem poderia imaginar que

fosse tão curto o caminho entre a rua de São João e a rua

Chunxi? De repente, percebemos que somos uma família

de pandas. Toda a gente olha para nós porque falamos alto.

As minhas irmãs e os meus cunhados refletem as cores

dos neons nas lentes dos óculos. Mas nós queremos é

a confusão de Jinli. Enchemos dois táxis, tememos que um

se perca do outro e nunca mais nos encontremos na vida.

Entre multidões espremidas em vielas, somos uma família

de pandas, comemos massa picante com pauzinhos e,

pelo menos, sabemos pronunciar Chengdu corretamente.




Poema de José Luís Peixoto, in Regresso a Casa, 2020, publicado por Quetzal (Portugal) e Dublinense (Brasil)

Livro em pré-venda AQUI (Portugal), AQUI (Brasil) e AQUI (México, em tradução castelhana).

Nas livrarias a 14 de agosto de 2020


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