Chengdu

Impressiona-nos estar tão longe de casa. No Parque do Povo,
com as duas mãos, pousamos chávenas de chá sobre mesas
de pedra. À mesma velocidade, flores de lótus flutuam no lago.
Por 10 yuan, especialistas com um cinturão de ferramentas
limpam-nos as orelhas. Olham demoradamente através desse
canal, observam ideias esdrúxulas, tentam compreendê-las.
Mas nós comparamos a província de Sichuan com Fornos de
Algodres e com o Alto Alentejo. Quem poderia imaginar que
fosse tão curto o caminho entre a rua de São João e a rua
Chunxi? De repente, percebemos que somos uma família
de pandas. Toda a gente olha para nós porque falamos alto.
As minhas irmãs e os meus cunhados refletem as cores
dos neons nas lentes dos óculos. Mas nós queremos é
a confusão de Jinli. Enchemos dois táxis, tememos que um
se perca do outro e nunca mais nos encontremos na vida.
Entre multidões espremidas em vielas, somos uma família
de pandas, comemos massa picante com pauzinhos e,
pelo menos, sabemos pronunciar Chengdu corretamente.
Poema de José Luís Peixoto, in Regresso a Casa, 2020, publicado por Quetzal (Portugal) e Dublinense (Brasil)
Nas livrarias a 14 de agosto de 2020
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