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  • José Luís Peixoto

VIGO, GALIZA, ESPANHA

Atualizado: 30 de out. de 2020

Todas as viagens são únicas



Este tempo faz-me ver que todas as viagens são únicas. Ontem, à noite, caminhei sozinho junto à marina de Vigo e, ao cruzar-me com gente de máscara, percebi que esta é uma viagem que nunca fiz e que nunca mais poderei repetir.



Estive em Vigo pela primeira vez com os meus pais, há quase trinta anos. Recordo muitos detalhes desse dia. Depois disso, voltei aqui várias vezes. No entanto, nunca tinha estado nesta cidade com estes pensamentos. Ao passar por grupos de jovens em esplanadas, não consegui resistir a um certo sentimento de desaprovação. Por um lado, estou a ficar realmente velho; por outro lado, este tempo transforma-nos de um modo particular.


Provavelmente, é assim com todos os tempos. Cada presente tem a sua forma específica de moldar-nos. Estar em Vigo agora, outubro de 2020, é claramente muito distinto de ter estado aqui, ter feito estes mesmos caminhos, em 2019, em 2009, em 1999, é muito diferente de voltar aqui em 2029 (tão difícil imaginar esse ano).


Hoje, manhã de sábado, despertei com esta janela aberta sobre o mar de Vigo, o mesmo que imaginava em versos de cantigas de amigo em aulas do 10º ano. Aos meus olhos, este mar tem essa memória, e outras, mas é inédito. Estou nesta manhã de sábado pela primeira vez.


Todas as viagens são únicas. Assim se destrói o sonho de possuir os lugares onde se esteve, de contar países, de eliminar destinos de uma lista: feito, feito. Mas, ao mesmo tempo, assim se abrem horizontes para uma verdade extraordinariamente maior, talvez até um pouco assustadora: estamos vivos, essa é a única viagem que fizemos e faremos.





Texto e fotos de José Luís Peixoto

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