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  • José Luís Peixoto

RESERVA MADIKWE, ÁFRICA DO SUL

Atualizado: 2 de jan. de 2021

Savana







Qualquer vencedor daqueles concursos de televisão sabe que Gaborone é a capital do Botswana. Talvez seja um pouco mais difícil saber que Madikwe é uma reserva natural na região noroeste da África do Sul. Se esta questão pertence a um nível mais avançado é porque, nessa parte do mundo, existem reservas bastante mais conhecidas: o Kruger Park em primeiro lugar mas, também, todas as reservas em redor do delta do Okavango ou ao longo da costa da Namíbia. Quando comparada com estes exemplos, Madikwe é mais recente e mais pequena. Ainda assim, já conta duas décadas e, se um hectare equivale a um campo de futebol, ocupa uma extensão de 75.000 campos de futebol. É um lugar-comum e um facto: África tem espaço.


No percurso entre Gaborone e Madikwe, a maior demora acontece na fronteira. Há formulários e carimbos obrigatórios nos dois lados. Numa viagem de ida e volta, preenche-se uma página de passaporte. Uma das entradas da reserva fica a menos de meia dúzia de quilómetros da fronteira. Ainda não tínhamos chegado ao portão e já havia uma família de símios a atravessar a estrada e, depois, ao lado, a treparem às árvores e a olharem para nós a olharmos para eles. Mas os mais famosos, aqueles com que se faz t-shirts e postais são os "cinco grandes", os cinco animais mais difíceis de serem caçados. Sem ordem ou hierarquia, os big five são o rinoceronte, o búfalo, o elefante, o leão e o leopardo. Já dentro de Madikwe, ao chegarmos à pousada, telhado grosso de colmo, soubemos que, de manhã, tinham sido avistados leopardos.


A primeira coisa que toda a gente repete aos principiantes é que uma reserva natural não é um jardim zoológico. Não há garantia que haja avistamentos dos animais que se esperam ver. Os leopardos são rápidos, aparecem e desaparecem. Em Madikwe há uma população de 800 elefantes, fáceis de contabilizar porque não conseguem atravessar os limites da reserva. Ainda estávamos na varanda da pousada, os guias tomavam chá, quando começámos a ver, ao longe, um elefante sozinho. Mais tarde, já no jipe, haveríamos de ver outro, a partir ramos de árvores para lhes beber a seiva. Depois, girafas, impalas, kudus e muitos outros. Os guias do parque trocavam informações pelos rádios à medida que iam avistando as mais diversas espécies. Decidimos procurar um grupo de leões. Encontrámo-los debaixo de uma árvore. E ficámos durante minutos diante de silêncio riscado pelo piar de pássaros próximos ou longínquos, diante do rosnar preguiçoso de pequenos leões, os seus movimentos na vegetação seca. Debaixo de um céu imenso: o céu.


Em Agosto, as oscilações térmicas ao longo do dia são enormes. A manhã começa fresca, a tarde quente e, logo após o entardecer, começa a gelar. Há cobertores no jipe. Quando regressámos à pousada, já tinha anoitecido. O guia apontava um foco de luz para a mata, cruzou-se com os olhos de uma hiena, tanta vida. A noite crescia. Com ela, um sentimento sem palavras, uma certeza, a compreensão fácil de que o ser humano nasceu neste continente.




Texto e fotos de José Luís Peixoto

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