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  • José Luís Peixoto

OODI, HELSÍNQUIA, FINLÂNDIA

Atualizado: 29 de mai. de 2022

A primeira biblioteca do resto da minha vida



O que é uma biblioteca? Ou, melhor dizendo: o que pode ser uma biblioteca? Saí da Oodi, a biblioteca central de Helsínquia, com perguntas como estas na cabeça.


Na véspera no 101º aniversário da independência da Finlândia, em 2018, foi inaugurada esta biblioteca, que fica na praça Kansalaistori, mesmo em frente ao parlamento finlandês, o que também é uma escolha altamente simbólica.


Em finlandês, a palavra “oodi” significa “ode” e, segundo as intenções expressas em relação a este edifício e instituição, trata-se de um espaço que pretende simbolizar os valores essenciais da sociedade finlandesa, a saber: educação, cultura, igualdade e abertura.


Tratam-se de três andares, com uma área total de 17 km2.


O tamanho é bastante eloquente. Ainda assim, o que mais me impressionou foi a forma como a biblioteca se apresenta e como é vivida.


Por um lado, não se trata apenas de um espaço de livros. Na Oodi, é possível requisitar instrumentos musicais e usá-los num dos muitos estúdios de gravação insonorizados; há também máquinas de costura que podem ser usadas; há inúmeras salas de jogos eletrónicos dos mais sofisticados; há salas para reuniões, salas para apresentações; há estúdios de fotografia completamente equipados; há cozinhas com tudo o que é necessário para realizar oficinas de culinária ou, simplesmente, para que grupos de amigos se encontrem e cozinhem em conjunto; há salas para assistir a uma extensa coleção de filmes. E tudo é absolutamente gratuito.







E os livros?


Estão no imenso terceiro andar. Com um imenso acervo, sobretudo em finlandês, mas também com uma seção internacional em vários idiomas (não encontrei livros em língua portuguesa), todas as pessoas que entram na biblioteca são incentivadas a retirar das estantes os livros que quiserem e a lerem-nos à vontade em qualquer ponto da biblioteca, mesmo sem cartão de associado (70% das atividades podem ser feitas sem cartão). Não há interdições em relação a comida ou bebida e, apesar de não se ver ninguém a mandar calar e a exigir silêncio, sente-se um enorme respeito coletivo e tranquilidade. As crianças andam sozinhas pelo espaço, muitas vezes apenas de meias.





Quando Borges imaginou o paraíso, provavelmente ficou-se pelo conceito convencional de biblioteca. Eu próprio nunca tinha sido capaz de conceber nada assim. No entanto, a partir de agora, é impossível voltar atrás, vou sempre imaginar o paraíso como esta fabulosa biblioteca finlandesa.




Texto e fotos de José Luís Peixoto








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