CUSCO, PERU
- José Luís Peixoto
- 20 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de set.

De Cusco a Machu Picchu
Tanto nas ruas antigas de Cusco, como em Machu Picchu, a “cidade perdida dos Incas”, ambas reconhecidas pela UNESCO como património mundial da humanidade, a arte tem o peso das pedras e a leveza dos gestos quotidianos. As lições dessa herança atravessam toda a história até chegarem aos nossos dias.
Agora, neste preciso momento, enquanto estamos aqui, a Plaza de Armas está lá, na cidade de Cusco, rodeada pela cordilheira dos Andes. As pessoas que atravessam agora a praça estão habituadas à altitude da cidade, 3400 metros acima do nível do oceano. Não lhes custa respirar, ganharam essa competência ao longo de gerações, de mães para filhas, de avós para netas, foi também assim que aprenderam as artes incas: fiar e tecer lã de alpaca, tocar flauta andina, falar quíchua.
Na língua quíchua, “Cusco” significa “umbigo do mundo”. O seu centro absoluto é a Plaza de Armas. Desenvolvida pelo governante inca Pachacutec, Cusco foi a capital desse império até à chegada dos espanhóis, no século XVI. A partir de então, apesar de se ter conservado a estrutura geral da cidade, os templos incas foram destruídos e substituídos por igrejas barrocas e palácios.
Ainda hoje, agora mesmo, esse tempo encontra-se marcado neste tempo. Está presente na arquitetura, na música, na comida, em toda a arte e, também, na pele das pessoas que, neste momento, atravessam a Plaza de Armas de Cusco.
Nas janelas do comboio entre Cusco e Aguas Calientes, existem as mesmas paisagens que foram contempladas durante séculos por aqueles que aqui nasceram e, depois, impressionaram todos os que aqui chegaram. Esta é uma natureza grandiosa, solene. O verde apresenta-se em todos os tons de uma fertilidade torrencial.
O garrido das mantas peruanas, como arco-íris que as mulheres andinas trazem às costas, nasce da fertilidade desta terra. No Mercado Central de San Pedro, em Cusco, essa abundância é desmedida: dezenas de tipos de batatas e de milho, quinoa clara ou escura, frutas e pimentas de todas as formas, cores que têm perfume.
O comboio atravessa o Vale Sagrado dos Incas até chegar a Aguas Calientes, a pequena localidade onde se apanha o autocarro que, subindo por uma espiral infinita, nos levará a Machu Picchu, cada vez mais perto do céu.
Os mistérios de Machu Picchu, tudo o que ainda não sabemos sobre este lugar, acompanham a falta de palavras com que os olhos tocam as imagens que temos diante de nós. Na distância, há montanhas a perder de vista, vegetação exuberante entre manchas de neblina. E, incrivelmente, como num sonho, cidade no topo de uma dessas montanhas.
Como foi possível construir tudo isto aqui? A cabeça enche-se de perguntas como esta. As respostas estão perdidas no tempo. Depois de passar séculos coberta pela natureza, Machu Picchu foi descoberta apenas em 1911. Entre estas paredes, viveram pessoas como nós. A sofisticação da sua cultura fica clara no urbanismo e na arquitetura, tanto na sua vertente mais funcional, dedicada ao armazenamento de alimentos e à habitação, como na mais lúdica e espiritual.
Normalmente reconhecida como a mais extraordinária criação do império inca, Machu Picchu mostra-nos que as raízes do tempo são mais fundas do que imaginamos. No entanto, foi através desse caminho que chegámos até aqui. Muito do que fazemos depende do que nos antecedeu, do que aprendemos ao longo de gerações durante séculos. O presente é uma consequência.
Texto de José Luís Peixoto
Fotos de Patrícia Santos Pinto
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