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  • José Luís Peixoto

ESTOCOLMO, SUÉCIA


Acreditar na excelência





O solstício de verão é uma das celebrações mais festejadas na Suécia. Após invernos frios e escassos de claridade, é fácil compreender a satisfação de usufruir de dias longos, céu azul, otimismo por fim, tempo de acreditar.


Nos recantos iluminados da bela cidade de Estocolmo, entre a sua longa memória, encontramos a história do Prémio Nobel que, há mais de cem anos, reconhece a excelência mundial.


Cada uma dessas pessoas acreditou num trabalho que, na sua área, fez avançar a humanidade. Em Estocolmo, tiveram esse reconhecimento.



A Cidade Velha, em sueco chamada Gamla Stan, é a área mais antiga de Estocolmo, data do século XIII. Levas de gente animada atravessam o empedrado das suas ruelas medievais. Diz-se que o próprio temperamento dos suecos muda durante estes meses de primavera e verão. O sol atravessa o vinho branco que é servido nas esplanadas, faz brilhar os cabelos das crianças que passam a correr.


Essa mesma luz toca as águas que rodeiam a ilha de Stadsholmen, onde se situa a Cidade Velha, assim como todas as outras ilhas que fazem parte de Estocolmo. São pontos a cintilar sobre a superfície do lago Mälaren e do mar Báltico, águas atravessadas por barcos e sobrevoadas por gaivotas a planar.


O dia começará a escurecer a partir das 23 horas e, depois de um céu que nunca chegará a ser realmente escuro, nascerá de novo às 3 horas da madrugada. Certas com esses horários, as árvores explodem em grandes copas no seu verde mais novo, o mais vivo de todo o ano. A natureza preenche o ar da cidade de perfume e de uma festa tranquila.




As cerimónias de entrega dos prémios Nobel são compostas por múltiplas tradições que, na medida do possível, todos fazem questão de cumprir.


Os laureados ficam hospedados no Grand Hotel, cinco estrelas, fundado no século XIX, já uma instituição da cidade. A partir das suas janelas e varandas, têm como paisagem a água e, depois, o Palácio Real. Aliás, ao longo da sua estadia, os premiados hão de cruzar-se com a família real, nomeadamente no edifício da câmara municipal, onde tem lugar o banquete Nobel, servido para mais de mil convidados.


Em 1998, no discurso relativo à atribuição do Prémio Nobel da Literatura, José Saramago falou dos seus avós, gente do campo, humilde e sábia. Desde essas origens até chegar ali, com medalha de ouro, a discursar numa das tribunas mais ilustres do mundo, o caminho do escritor português foi feito de trabalho e convicção.



Também a Academia Sueca acreditou nessa obra e, ao fazê-lo, reconheceu pela primeira vez um autor de língua portuguesa com aquele que é considerado o prémio literário mais importante do mundo.


A animação das suas ruas é suficiente para justificar uma visita a Estocolmo, uma capital que está entre as mais sofisticadas da Europa a diversos níveis. O centro essencial da cidade está à distância de um bom passeio. Nos dias longos das semanas imediatamente anteriores e posteriores ao solstício, essas caminhadas são um prazer.


De tempo em tempo, vale também a pena parar e experimentar algumas das várias tentações da culinária sueca, com diversos sabores icónicos, como é o caso do salmão, das famosas almôndegas ou dos bolos de canela que enchem as ruas com o seu aroma.


A não perder também são os museus, diversos e de relevância mundial, como é o caso do Museu do Vasa. Este é o nome da enorme embarcação que, na sua viagem inaugural, se afundou ao largo de Estocolmo, como um Titanic sueco de 1628. Já no século XX, o navio foi resgatado das águas, restaurado em detalhe e integrado neste que é o museu mais visitado de toda a Escandinávia.


Estocolmo não esquece a sua memória e, no entanto, é uma cidade que acredita no futuro. É assim que edifica a surpresa e a inovação que constitui o seu presente.







Texto de José Luís Peixoto

Fotos de Patrícia Santos Pinto

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